MASP Museu de Arte de Sao Paulo

Vera Chaves Barcellos

Imagens Em Migração

14 Aug - 25 Oct 2009

Vera Chaves Barcellos, Manequins de Dusseldorf, 1978
Provocação em panorama das cinco décadas de carreira de Vera Chaves Barcellos

Uma das principais artistas brasileiras em atividade, Vera Chaves Barcellos, chega a São Paulo com “Imagens em Migração”, exposição com 96 obras produzidas dos anos 1960 até os dias de hoje. Realizada em parceria entre o MASP e a Fundação Vera Chaves Barcellos – FVCB -, a mostra conta com curadoria da crítica de arte Glória Ferreira e inclui cinco séries do prestigiado conjunto de imagens “Testarte”, que marca a transição da artista do moderno para o pós-moderno, apresentado durante a Bienal de Veneza de 1976, além de um leque de trabalhos e versões que o público nunca viu.

A série completa “On Ice”, registro fotográfico de uma performance em 1978 em um lago gelado de Amsterdã, trabalho conjunto com Flávio Pons e Cláudio Goulart; “Maras”, composta por três imagens e a recente “Meus Pés” são algumas das obras inéditas da mostra. As novidades se juntam a trabalhos já consagrados da artista, entre eles a série “Epidermic Scapes”, elaborada entre 1977 e 1982, na qual apresenta fragmentos do corpo humano como paisagens em reproduções fotográficas de impressões da pele sobre papel vegetal.

Destaca-se também a instalação “Os Nadadores”, de 1998, uma projeção dentro de um aquário, uma conjugação de imagens de diversas origens, inclusive fotocópias, além do vídeo “No a la Guerra”, sobre a guerra do Iraque.
Entre obras gráficas, séries fotográficas, instalações, xilogravuras, objetos, mostra documental e vídeos, “Imagens em Migração” apresenta um conjunto que remete à multiplicidade artística de Vera Chaves Barcellos e sua larga trajetória na difusão de arte contemporânea.

A artista foi um dos fundadores do grupo Nervo Óptico (1976-1978) e do Centro Alternativo de Cultura Espaço N.O, (1979-1982), uma referência para a produção artística no Brasil, além da galeria Obra Aberta (1999-2002) e da Fundação Vera Chaves Barcellos – FVCB - criada em 2003.
Desde 1986 dividindo sua rotina entre Porto Alegre e Barcelona, onde possui ateliê, Vera Chaves participou de exposições significativas em capitais como Londres e Paris, e das Bienais de Veneza, em 1976, Cuba, em 1984 e São Paulo, nas edições de 1967, 1977, 1983 e 89. Há dois anos, sob a tríplice curadoria de Fernando Cochiaralle, Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias realizou uma mostra antológica, O Grão da Imagem no Santander Cultural, em Porto Alegre.
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Texto da curadora Glória Ferreira:
Imagens latentes parecem à espreita em cantos e recantos, próximos ou longínquos, do universo, ou em outras imagens, para se tornarem modalidades de presença. Presenças que se contaminam, agregam e dissolvem significações. É no cerne dessa incessante migração, constitutiva da própria imagem, que se inscreve a poética de Vera Chaves Barcellos.

Das suas fotografias à captura de imagens de jornais, de cinema, televisivas ou literárias, o trabalho se constitui por deslocamentos e associações com outros meios, como a gravura, a xerox, o desenho ou outros signos tal como texto, luz, volumes ou elementos orgânicos, buscando tornar visíveis as relações entre imagem e pensamento, entre analogias e abstrações, imagens e espaço.

Imagens em Migração, sem pretensões a mostra retrospectiva, apresenta um panorama de sua produção, abarcando trabalhos de diferentes momentos de sua trajetória, a começar pelo pioneiro enfrentamento com a imagem no início dos anos 1970 com os trabalhos da longa série Testarte. Série, que investiga a própria percepção e, de certa maneira, parece antecipar o necessário potencial crítico face ao temido dilúvio de imagens pré-fabricadas, sejam elas manequins, que nos cercam. Questão que, de diferentes modos, atravessa seus trabalhos como na série Atenção na qual está em jogo, por meio da transcrição parcelada das imagens em desenhos o “processo seletivo do perceber”.

Operando cortes sobre o próprio corte espaciotemporal da fotografia, como em Per(so)nas, de 1980-1982, que nos remete ao hors champs e, assim, à inexorável incompletude das imagens; ou ainda sobre a pose em que nos transformamos quando fotografados, como em Keep Smiling, 1977-1978, ou, entre outros, em Retratos, de 1992-1993, é o próprio dispositivo fotográfico que se apresenta sempre em suspensão, investigado, transgredido.

Nos trabalhos mais recentes, como Os Nadadores, O Peito do Herói, Le Revers du Rêveur, ou ainda, entre outros, Dones de La Vida e Visitant Genet, tramas ficcionais e históricas associam elementos de diversas ordens e origens nas suas ocupações do espaço ambiente.
Seu aprendizado e experiências com a gravura, cujos procedimentos já indicam pesquisas futuras com a fotografia, também estão presentes em Imagens em Migração, bem como um conjunto significativo de documentos sobre a constante participação de Vera Chaves Barcellos na constituição de um campo produtivo para a arte contemporânea no Rio Grande do Sul, com ressonâncias no meio de arte brasileiro ? do Nervo Óptico, nos anos 70, ao Espaço N.O. e à atual Fundação Vera Chaves Barcellos. Práxis inseparável de sua produção artística que se realiza em constante diálogo com a atividade crítica dos artistas brasileiros e internacionais.

Glória Ferreira - Julho de 2009
 

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